quinta-feira, 13 de outubro de 2016

A literatura



Persiste à nossa volta o erro de confundir os livros com a literatura. De confundir o suporte com o discurso. Nem a literatura é redutível ao livro, nem o livro se esgota na literatura.
No livro não cabem nem o som nem a memória íntima das palavras, o timbre que ecoa na consciência como correlato de uma voz que ultrapassa a possibilidade de qualquer fixação gráfica. Na literatura mal cabe a multiplicidade de registos nos quais o livro se desdobra.

Importa acreditar mais na literatura do que no livro. Na voz, no ritmo, no fio de consciência que se faz mundo. Importa acreditar mais nas palavras do que em qualquer suporte. Acreditar que literatura é uma forma de compreensão. Não uma explicação, uma compreensão. Interior e voluntariamente condicionada pelas suas próprias opções. Exigente e sem compromissos que não sejam o da sua estrita legibilidade.